26/04/2021

Extensão universitária, Economia Solidária e geração de oportunidades no contexto da COVID-19: uma visão a partir de três experiências concretas no território brasileiro

Sandro Pereira Silva, Clovis Vailante; Oscar Zala Sampaio Neto, Bruna Nunes da Cunha, Solène Tricaud, Frederico Campos Pereira, Lucyana Xavier Azevedo, Manoel Pereira de Macêdo Neto, Lício Romero Costa, Adriana Rodrigues da Silva, Leandro Pereira Morais, Sérgio Azevedo Fonseca, Caio Luís Chiarello
2020

O recente cenário de expansão epidêmica em nível global, provocada pelo novo coronavírus (Covid-19), trouxe à tona uma avassaladora crise humanitária que vai além da questão sanitária propriamente dita, marcada pelo crescente número de vítimas em todo o mundo, afetando também as economias nacionais. Com isso, houve uma elevação do desemprego em todos os países afetados, em virtude das medidas de isolamento indicadas como forma de conter a proliferação viral.

Especificamente no Brasil, dados recentes indicam que, somente no mês de maio, 9,7 milhões de pessoas perderam suas ocupações, elevando bruscamente o contingente populacional em situação de vulnerabilidade e incerteza econômica. Algumas previsões já apontam para uma queda superior aos 10% no produto interno bruto (PIB) do país em 2020, o que resultaria em uma situação sem precedentes até então (Dweck et al., 2020). Por sua vez, as políticas públicas de enfrentamento anunciadas até o momento pelo governo federal são controversas, além de serem consideradas tímidas em relação a medidas tomadas por outros países (Nogueira, Silva e Carvalho, 2020; Amitrano et al., 2020; Dieese, 2020; Palludeto et al., 2020; Valadares et al., 2020).

Dado esse contexto emergencial, novas estratégias precisam ser consideradas como possibilidades de geração de oportunidades que auxiliem grupos sociais mais expostos à vulnerabilidade econômica. Instituições públicas, como universidades e institutos de educação tecnológica, tanto de natureza federal quanto estadual, surgem, então, como agentes importantes nesse processo, sobretudo devido à sua capilaridade no território nacional.

Além de seu papel fundamental no desenvolvimento de pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos e proteção contra os malefícios sanitários da epidemia, sua atuação nas comunidades, por meio de projetos de extensão, pode auxiliar também grupos sociais a promover atividades produtivas para a geração de trabalho e renda a um contingente considerável de famílias. Nesse sentido, a prática de extensão universitária
expressa um vínculo fundamental da universidade com o território e a sociedade em que ela se insere, e é necessariamente indissociável das funções de ensino e pesquisa.

Para esse tipo de atuação, os princípios da economia solidária surgem como orientadores importantes da prática extensionista nesses grupos, com o objetivo de fomentar iniciativas econômicas baseadas no associativismo, na autogestão e no desenvolvimento local sustentável (Silva, 2017). Embora práticas com essa perspectiva já ocorram há algum tempo em grande parte do país,15 o cenário de epidemia lançou novos desafios às equipes de extensionistas, que vêm necessitando adequar abordagens metodológicas para o atendimento dessas demandas emergentes que têm se colocado.

Este texto visa, então, divulgar experiências que se encaixam de alguma forma nessa perspectiva, englobando a atuação extensionista de três instituições de educação superior e tecnológica no Brasil – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em geral, tais experiências envolvem a mobilização de grupos associativistas e a construção de novas parcerias, inclusive com os poderes públicos locais, seja para fomentar novas oportunidades de atuação produtiva a partir de demandas específicas de combate à epidemia, seja para assessorar grupos já formados para se adequarem às novas dinâmicas de comercialização em tempos de isolamento social, sem deixarem de se ater a outras necessidades emergenciais que afetam as populações envolvidas.

Fuente: Boletim IPEA, mercado de trabalho | 69 | julho 2020

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