Extensão universitária, Economia Solidária e geração de oportunidades no contexto da COVID-19: uma visão a partir de três experiências concretas no território brasileiro
O recente cenário de expansão epidêmica em nível global, provocada pelo novo coronavírus (Covid-19), trouxe à tona uma avassaladora crise humanitária que vai além da questão sanitária propriamente dita, marcada pelo crescente número de vítimas em todo o mundo, afetando também as economias nacionais. Com isso, houve uma elevação do desemprego em todos os países afetados, em virtude das medidas de isolamento indicadas como forma de conter a proliferação viral.
Especificamente no Brasil, dados recentes indicam que, somente no mês de maio, 9,7 milhões de pessoas perderam suas ocupações, elevando bruscamente o contingente populacional em situação de vulnerabilidade e incerteza econômica. Algumas previsões já apontam para uma queda superior aos 10% no produto interno bruto (PIB) do país em 2020, o que resultaria em uma situação sem precedentes até então (Dweck et al., 2020). Por sua vez, as políticas públicas de enfrentamento anunciadas até o momento pelo governo federal são controversas, além de serem consideradas tímidas em relação a medidas tomadas por outros países (Nogueira, Silva e Carvalho, 2020; Amitrano et al., 2020; Dieese, 2020; Palludeto et al., 2020; Valadares et al., 2020).
Dado esse contexto emergencial, novas estratégias precisam ser consideradas como possibilidades de geração de oportunidades que auxiliem grupos sociais mais expostos à vulnerabilidade econômica. Instituições públicas, como universidades e institutos de educação tecnológica, tanto de natureza federal quanto estadual, surgem, então, como agentes importantes nesse processo, sobretudo devido à sua capilaridade no território nacional.
Além de seu papel fundamental no desenvolvimento de pesquisas para o desenvolvimento de tratamentos e proteção contra os malefícios sanitários da epidemia, sua atuação nas comunidades, por meio de projetos de extensão, pode auxiliar também grupos sociais a promover atividades produtivas para a geração de trabalho e renda a um contingente considerável de famílias. Nesse sentido, a prática de extensão universitária
expressa um vínculo fundamental da universidade com o território e a sociedade em que ela se insere, e é necessariamente indissociável das funções de ensino e pesquisa.
Para esse tipo de atuação, os princípios da economia solidária surgem como orientadores importantes da prática extensionista nesses grupos, com o objetivo de fomentar iniciativas econômicas baseadas no associativismo, na autogestão e no desenvolvimento local sustentável (Silva, 2017). Embora práticas com essa perspectiva já ocorram há algum tempo em grande parte do país,15 o cenário de epidemia lançou novos desafios às equipes de extensionistas, que vêm necessitando adequar abordagens metodológicas para o atendimento dessas demandas emergentes que têm se colocado.
Este texto visa, então, divulgar experiências que se encaixam de alguma forma nessa perspectiva, englobando a atuação extensionista de três instituições de educação superior e tecnológica no Brasil – Universidade Federal de Mato Grosso (UFMT), Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba (IFPB) e Universidade Estadual Paulista (Unesp). Em geral, tais experiências envolvem a mobilização de grupos associativistas e a construção de novas parcerias, inclusive com os poderes públicos locais, seja para fomentar novas oportunidades de atuação produtiva a partir de demandas específicas de combate à epidemia, seja para assessorar grupos já formados para se adequarem às novas dinâmicas de comercialização em tempos de isolamento social, sem deixarem de se ater a outras necessidades emergenciais que afetam as populações envolvidas.
Fuente: Boletim IPEA, mercado de trabalho | 69 | julho 2020